quinta-feira, 15 de outubro de 2009

Como Davi, nós precisamos do consolo de Deus



Olá amigos,
Da última vez postei um breve estudo que servia para este sermão.
Para mim, colocar isso na internet hoje é um marco histórico.
Abaixo segue o sermão:

Como Davi, nós precisamos do consolo de Deus.

Ninguém disse que iria ser fácil.
Essa é uma das frases populares mais ditas entre nós, mas infelizmente em momentos não tão agradáveis de ouvi-la. Existem momentos na nossa vida em que não sabemos de onde tirar forças para continuar a caminhada. Momentos difíceis e de sofrimento. A frase “ninguém disse que iria ser fácil” representa a realidade em que vivemos. E realmente não é fácil!
Só para citar um tipo de sofrimento, gostaria de contar-lhes uma história que presenciei dias atrás. Era final do dia e o sol já estava se pondo. Por volta das 19:00 horas eu estava entrando no prédio 11 da ULBRA e muitas pessoas estavam entrando e saindo naquele horário. Também havia muitos funcionários saindo naquele momento e notei que todos carregavam a sacola da cesta básica. Você já sentiu o peso que é uma sacola dessas? Devem ter cerca de 30 kg! Contudo, era fácil de identificar os funcionários, pois usavam uniformes. No meio daquelas pessoas, vi uma senhora que devia ter uns 50 anos. Ela era de estatura baixa, rosto marcado pelo tempo e demonstrava muito cansaço. Ela também havia ganhado sua cesta básica, mas um menino com cerca de 8 anos de idade, muito mais baixo que ela, estava ajudando-a a carregar sua sacola. Enquanto um segurava numa alça o outro segurava na outra. Talvez ela fosse a mãe dele, pois durante a caminhada com carinho ela disse para o menino: “Quando cansar seu braço me avise que eu troco de lado com você”.
O cansaço é um dos sofrimentos, mas com certeza teríamos muitos outros para citar. No entanto, como é bom poder saber onde encontrar consolo diante dos sofrimentos. O menino sabia que podia contar com aquela senhora, pois ela prometera para ele.
Na Bíblia encontramos uma história de um rei que sofre, o rei Davi. Mas o sofrimento de Davi é diferente, pois Davi está sozinho sem ninguém para ajudar a carregar o seu fardo. Davi está sofrendo sozinho.
Durante muito tempo ele teve que fugir de uma cidade para outra, pois era perseguido pelo rei Saul e tinha muito medo. A situação não estava fácil para Davi, pois Saul era seu amigo e o perseguia por que seu nome era mais conhecido que o de Saul. Também chorou muito quando sua cidade fora queimada e suas mulheres, filhos e filhas tinham sido levados cativos. As palavras de Davi no salmo 22 expressam todo esse sofrimento é também um sentimento de que talvez tivesse sido deixado de lado.
“Deus meu, Deus meu, por que me desamparaste?” Davi está se sentindo desamparado e clama por Deus dia e noite e está inquieto por causa da situação que está passando. Davi procura consolo para suas aflições. Ao mesmo tempo está confiante de que será atendido. Pois reconhece que esse é o Deus de Abrão, de Isaque e de Jacó. Esse é o Deus que faz promessas e cumpre-as com a sua palavra. Davi afirma: “nossos pais confiaram em ti; confiaram, e os livraste”. Davi não está falando de si próprio, ou da confiança dos pais em Deus, mas está falando das promessas de Deus. Por isso Davi faz comentários tão notáveis para nós. Davi expressa gratidão em dizer que Deus o preservou de tudo o que passou. Mas também demonstra muito medo ao falar daqueles que o cercam e pede urgência para que Deus atenda suas aflições. Poderia dizer que Davi está num beco sem saída, está desesperado.
Mas por que Davi pede ajuda à Deus?
O próprio Davi nos dá essa resposta. Por que Deus não desprezou o aflito, também lhe ouviu quando lhe gritou por socorro. Por que Deus é Santo, é quem faz nascer, é quem preserva, é quem governa as nações e é quem faz justiça.
Davi sabe onde encontrar consolo e sabe por que. Ele aprendeu com os pais as promessas de Deus.
E nós? Sabemos de onde vem esse consolo? Que promessas são essas que Deus tem para nós? Muitas vezes estamos como Davi sofrendo sozinhos e assim como Davi nós também precisamos desse consolo. Quando ouvimos a frase: “ninguém disse que iria ser fácil”, quando estamos sofrendo sozinhos por quaisquer motivos que seja então dizemos como Davi: “Deus meu, Deus meu, por que me desamparaste?” Às vezes parece que não há ninguém ao lado para nos ajudar a carregar o fardo. Contudo há ainda um consolo para todos nós. Este consolo encontramos em Jesus Cristo.
Após ter sido açoitado e crucificado, Jesus Cristo clamou a Deus da mesma maneira como Davi e inclusive com as mesmas palavras: “Eli, Eli lamá sabactâni. O que quer dizer: Deus meu, Deus meu, por que me desamparaste?”
Mas por que Jesus clama? Se ele é Deus, por que clama à Deus?
Por que o sofrimento é algo que nenhum de nós quer passar. Nós queremos sair do sofrimento, queremos ir para bem longe daquilo que nos machuca. Com Jesus não é diferente, pois é homem de carne e osso. Assim como Davi sofreu e como nós sofremos, Jesus também sofreu. Por ser Deus, Ele poderia muito bem ter descido da cruz e ter matado todo mundo e acabado com tudo o que existe. Contudo, se o tivesse feito, não seria nosso Deus. Nosso Deus é um Deus de promessas e por causa da promessa Jesus teve que sofrer e morrer. Era necessário que isso acontecesse. Desde o pecado de Adão e Eva, eu e vocês estamos todos condenados à morte eterna. Nós não merecemos viver, nós merecemos morrer. Diante dos olhos de Deus, tudo o que fazemos é mau. Se fizéssemos apenas uma lista do mês com todos os pecados que cometemos, com certeza já seria uma grande lista. Talvez a lista da semana, ou quem sabe do dia. Um único pecado sequer que cometamos nós coloca direto no inferno. Mas há uma promessa que está fora de nossas ações, está na palavra de Deus. Na boa nova do evangelho. A promessa de que em Cristo, todos os pecados estão perdoados. Todos os pecados sem exceção. Inclusive aqueles que nós cometemos e muitas vezes não nos damos por conta. Esse é o nosso maior consolo, pois Jesus veio ao mundo para morrer em nosso lugar. Jesus se fez culpado por causa de nós.
Por isso podemos viver tranqüilos na certeza de que a nossa salvação está garantida em Cristo. Que em Cristo todos os nossos pecados são perdoados e que somos livrados da morte eterna. Que iremos viver a vida eterna com Cristo. Contudo, no sofrimento também podemos clamar a Deus, pois ele promete atender e é ele quem está por traz de tudo. Deus pode dizer para você: “Quando cansar seu braço me avise que eu troco de lado com você”. Deus está conosco no sofrimento. Não nos esqueçamos das palavras de Jesus: “Vinde a mim, todos os que estais cansados e sobrecarregados, e eu vos aliviarei”.
Esse é o Deus que nos salva por causa de Cristo! Que Ele esteja sempre conosco em nossa caminhada, nos preservando como fez com o rei Davi. Amém

domingo, 27 de setembro de 2009

Preparação para o Sermão



Dentro do seminário, aprendemos o quão importante é fazer um breve estudo sobre todos os assuntos que estão relacionados ao texto que o pastor irá pregar.
A primeira parte, visa buscar a idéia central do texto, idéias comuns, objetivo geral (um ou mais) e a ênfase teológica (uma ou mais). Mas para isso é necessário também muito estudo para conseguir tirar o "supra sumo" do texto. Vejo que para que eu elaborasse o meu estudo preparatório para o sermão, foi muito bom ter cursado as aulas de Hebraico, História e Literatura do Antigo Testamento, Cristologia, Princípios de Interpretação Bíblica,Exegese do Antigo Testamento, Sistemática, entre tantas outras disciplinas fornecidas na ULBRA e no seminário.
Sem muita demora, fiz um "breve" estudo sobre o Salmo 22 e gostaria de compartilhar com vocês esse momento onde rolou muitas sinapses para concluí-lo. Futuramente disponibilizarei a sequência da preparação para o sermão e o próprio quando finalizá-lo.
Segue o "breve" estudo:

SALMO 22 - Leitura para a sexta-feira da Paixão.

O salmo 22 têm como idéia principal mostrar o sofrimento de Davi e a quem ele recorre diante do sofrimento. Ou seja, mostra o sofrimento do ser humano e onde ele pode buscar refúgio.
Da idéia principal, podemos também ver quem é esse Davi. Ele já tinha passado por muito sofrimento, durante muito tempo ele teve que fugir de uma cidade para outra, pois era perseguido pelo rei Saul e tinha muito medo. Davi era um homem que tinha medo e isso é muito visível no livro de 1 Samuel. Também chorou muito quando sua cidade fora queimada e suas mulheres, filhos e filhas tinham sido levados cativos 1 Samuel 30.4. Não há dúvidas que Davi carregava um peso muito grande, pois passava por aflições, e isso está muito bem expresso no Salmo 22. Contudo, Davi sempre encontra refúgio em Deus.
O texto nos mostra também que o Deus que Davi recorre na hora do sofrimento é Santo, é quem faz nascer, é quem preserva, é quem governa as nações e é quem faz justiça. Por isso é notável que a leitura deste texto nos conduza do sofrimento de Davi até o refúgio que está em Deus, pois não cai um fio de cabelo sobre a terra que não seja da vontade de Deus. Talvez esse seja o seu objetivo geral de que nós também passamos por sofrimentos, angústia e preocupações e assim como Davi podemos encontrar refúgio em Deus.
Por outro lado, o texto também tem um fundo teológico, pois aponta para Cristo. Assim como Davi sofreu e se via desamparado, assim também nós estamos muitas vezes. Mas nesse sofrimento não estamos sozinhos, Deus está conosco. No sofrimento de Davi e no nosso sofrimento Deus está conosco em Jesus Cristo. Jesus sofre conosco e em nosso lugar na sua obra na cruz e é vitorioso, pois ressuscitou para nos salvar. Por isso podemos então dormir tranqüilos e viver a nossa vidinha, “pois do Senhor é o reino, é ele quem governa as nações” (Salmo 22.28).

sábado, 22 de agosto de 2009

O que é ser luterano para você?


Essa pergunta se destina somente para aqueles que participam da igreja luterana, entretanto acho que é válida também para as outras denominações. Seja qual for sua denominação religiosa, o que é participar da religião a qual você está ligado?
Gostaria de expor o que eu creio.
Como já foi mencionado neste blog, eu não fui sempre luterano. Antes de ser luterano eu era católico e participo da Igreja Evangélica Luterana do Brasil desde 2003. Este foi o ano em que comecei a frequentar a Igreja Luterana.
A mudança não foi tão rápida como as vezes imaginamos.
Contudo, gosto de comparar minha entrada para Igreja Luterana com o período da Reforma.
A Reforma não foi pacífica, ouve muita briga até chegar ao ponto em que os confessores declararam as verdades que precisavam ser declaradas.
Da mesma forma, o pastor que cuidou para que eu fosse instruído também não teve tanta facilidade. Eram muitas dúvidas que eu tinha, mas ele foi totalmente atencioso comigo.
De qualquer forma, a Reforma trouxe para o mundo uma nova realidade.
Sempre faço a pergunta para os amigos: Como as pessoas eram salva antes de Lutero?
A resposta é simples: "Por que Deus amou o mundo assim: deu o seu Filho unigênito, para que todo o que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna."
A Palavra, que é Cristo, sempre esteve entre nós. A Reforma trouxe apenas uma nova realidade que estava de certa forma sendo escondida pelo catolicismo romano e precisava ser reafirmada. A realidade da salvação pela obra de Cristo e não pelas obras dos homens. Nós não conseguimos cumprir a lei de Deus e merecemos apenas a condenação, ou seja, merecemos ir para o inferno!
Mas Deus por seu amor providenciou para que sejamos todos salvos (resgatados, remidos, comprados, etc...) quando enviou seu único filho para cumprir a lei em nosso lugar.
Essa foi a verdade que os confessores afirmaram e é o que nos trouxe para uma nova realidade.
Não quero afirmar aqui que os luteranos estão corretos, mas quero afirmar que todos somos como ovelhas perdidas que precisam do seu pastor para voltar ao rebanho.
Diante dessas afirmações, essa é a nova realidade que eu vivo e também por isso que eu defino o que é ser luterano dessa maneira.
A nova realidade é viver na liberdade e salvação que só Cristo pode nos dar!

E você? O que você acha que é ser metodista, batista, judeu, católico, luterano, budista? O que é para você, participar da sua religião?

sexta-feira, 7 de agosto de 2009

Governo Cristão? Será uma boa idéia?













Esta é uma imagem da "Marcha pela Família", de 1964. Clique na imagem para mais informações.

Diante de tal imagem, quero apresentar-lhes um resumo da carta de Lutero a Câmara de Danzig que serve para reflexão.
Segue resumo:



Lutero a Câmara de Danzig. Wittenberg, 5 (7?) de maio de 1525.

No ano de 1518, Lutero foi convocado pelo governo de Danzig a enviar-lhe um pregador evangélico. Lutero enviou, então, Miguel Hänlein. Ele enviou uma carta de recomendação e aproveitou para adverti-los contra os adeptos radicais da Reforma. Segue um breve resumo da carta de Lutero a câmara (governo) de Danzig.

A carta.

Assim como os apóstolos, Lutero inicia sua carta fazendo uma saudação aos leitores de Danzig. Comenta também que se empenhou em enviar um pregador que fosse adequado para eles. Também dá uma explicação de que não havia sido possível enviar o senhor João Pommer, pois a comunidade não havia liberado ele com o intuito de também educar outros e atender outras cidades. Lutero pede que os de Danzig recebam bem a Miguel Hänlein, considerando que aqueles que nos ensinam a Palavra merecem consideração em dobro.

De certo modo, alerta para que entre eles haja paz e que não se insinuem entre eles quaisquer espíritos entusiásticos. Que se necessário fosse mudar ou quebrar, imagem ou o que for, que fosse feito pela câmara, para não desrespeitar a autoridade que Deus, afinal, deseja temida e respeitada.

Por fim Lutero escreve exortando a câmara de Danzig para que não governe segundo a lei de Moisés, e muito menos segundo o Evangelho. E em relação a isso escreve um anexo que segue o resumo abaixo.

Folha anexa.

Lutero escreve que nós gentios, devemos obedecer as normas de direito local, pois a lei de Moisés está morta. Também não se deve governar pelo Evangelho, pois é lei espiritual, segundo a qual não se pode governar, mas cada qual precisa posicionar-se perante o mesmo, cumpra-o ou não. Nem se pode e nem se deve forçar ninguém a isso, pois não se pode obrigar ninguém a fé, neste ponto não é a espada, mas o Espírito de Deus que precisa ensinar e governar. Por isso é necessário separar o regime evangélico do regime secular, para não confundi-los.

No regime evangélico o pregador deve administrar somente com a boca, deixando a cada qual sua vontade neste aspecto, quem o aceitar, que o faça, quem não quiser, deixe-o.

Lutero ainda dá um breve exemplo a respeito do empréstimo a juros. Esse é totalmente anti-evangélico, por outro lado Lutero diz que as leis dos homens são diferentes das leis de Deus e essas também devem ser respeitadas. Por fim, Lutero diz que o que vale ainda é ter bom senso. Ou seja, não se pode prescrever leis, mas tudo depende da pessoa em questão. Se idoso, se necessitado, entre outros...

Em alguns casos a dívida deve ser suportada segundo o amor, o bom senso e o discernimento de pessoas ao invés de arruiná-la, caso contrário reinaria injustiça por toda parte.

sexta-feira, 17 de julho de 2009

Nem legalismo, nem libertinagem, somente o amor...


EXEGESE GÁLATAS 5.13

Gl 5.13 – “Porque vós, irmãos, fostes chamados à liberdade; porém não useis da liberdade para dar ocasião à carne; sede, antes, servos uns dos outros, pelo amor”.

Na carta aos Gálatas, o apóstolo Paulo está lidando com o problema dos judaizantes. Esses ensinavam que era necessário cumprir as leis e as tradições judaicas para obter a salvação. Não negavam a fé, mas consideravam-na insuficiente. Possivelmente eram judeus super zelosos que vieram da Judéia, ou seja, cristãos vindos de fora que estavam levando os cristãos da Galácia para outro caminho, o qual não provinha de Cristo.

Por meio desta carta, Paulo quer defender a sua autoridade apostólica e reafirmar o evangelho em toda a sua verdade. O versículo escolhido para esta exegese consta de três palavras muito importantes que talvez seja necessário analisá-las para melhor compreendê-lo. As palavras são: liberdade, carne e amor.

Liberdade

A liberdade para Paulo é um tema muito importante. Por isso Paulo sempre ao tratar desse tema, trata-o com carinho e reverência. Entretanto, o texto parece ser um pouco confuso de se entender, pois Paulo escreve: “Porque vós, irmãos, fostes chamados à liberdade”. O que é ser chamado à liberdade?

O termo utilizado no grego para liberdade é “eleutería”.Desse mesmo modo, esse termo é encontrado nas seguintes passagens: 1 Co 10.29; 2 Co 3.17 e Gal 5.1. Analisando esses outros versículos, pode-se notar que Paulo, ao utilizar esse termo está ensinando sobre a liberdade que os cristãos adquiriram por causa de Cristo. Paulo está ensinando aos gálatas que por causa de Cristo, eles estão livres da lei, da carne e do pecado. Por isso, Cristo deve ser o objeto da fé do cristão e não as leis e as tradições judaicas como queriam os judaizantes. Só em Cristo nós temos liberdade, pois só Ele pode nos concedê-la. Ao ser humano, não há método pelo qual consiga obter a salvação por si próprio, mas por meio de Cristo isso é possível. Sendo assim, já convencidos pelo Espírito Santo que nos concedeu a fé em Cristo Jesus o nosso Salvador, não precisamos fazer nada para a nossa salvação. Aquele que se acha no direito de salvar-se por seus méritos, nega a Cristo e ao seu perdão. Por isso Paulo escreve: “Porque vós, irmãos, fostes chamados à liberdade”. Por que estando em Cristo somos chamados a liberdade e fora dele não há liberdade. Fora de Cristo não há perdão!

Entretanto, essa liberdade que Cristo nos dá está direcionada. Paulo escreve: “porém não useis da liberdade para dar ocasião à carne; sede, antes, servos uns dos outros, pelo amor”.

Carne

Para a palavra carne Paulo utiliza o termo “sarx”, do grego e este aparece em vários outros textos. Paulo utiliza o termo carne às vezes para descrever o ser humano ou uma pessoa (Gl 1.16), também pode ser identificado como natureza humana, descendência mortal (1Co 10.18), talvez limitação física (Gl 2.20), entretanto freqüentemente Paulo utiliza o termo carne como o instrumento voluntário do pecado (Gl 5.16s;Gl 5.19; Gl 5.24) e é exatamente a isso que se refere Paulo no versículo 13 do capítulo 5 da carta aos gálatas. Para Paulo o pecado é a pior coisa que existe, pois é por causa do pecado que Deus se tornou nosso maior inimigo. Por causa do pecado que herdamos de Adão e Eva Deus nos acusa constantemente porque não conseguimos cumprir a sua lei. Contudo, Cristo veio ao mundo para dar perdão dos pecados e Paulo exorta aos Gálatas para que não voltem para a vida em pecado, pois estão dentro da liberdade cristã. Os gálatas estavam indo para um lado extremo que é o da libertinagem. Parece que o pensamento dos gálatas era de que salvos por Cristo podiam pecar à vontade, pois Cristo os perdoaria e Paulo nesse momento escreve para que eles não façam isso, mas ajam com amor. Paulo os exorta a não fazerem mau uso da liberdade dando lugar para a carne, ou seja para o pecado. É interessante que Paulo coloca um limite para que os gálatas não caiam no erro novamente e esse limite é o amor.

Amor

Para Paulo, o amor (ágape) deve ser o meio pelo qual os gálatas devem agir uns com os outros e por isso ele usa a preposição "dia", que com o genitivo mostra que é o meio pelo qual devem agir. Paulo não está se referindo ao amor apenas como sentimento, mas como maneira de agir. É interessante que esse é o direcionamento que Paulo coloca para os gálatas, é como se dissesse para praticarem o amor, pois assim não estariam praticando o pecado. Os gálatas já eram cristãos, mas estavam sendo desviados por outros, ou seja, pelos judaizantes. Os judaizantes estavam induzindo os gálatas a praticarem as leis e tradições judaicas alegando que era isso que agradava a Deus. Paulo diz que não! O que agrada a Deus é agir com amor ao próximo e que este amor está dentro da liberdade cristã, a liberdade que Cristo nós dá. Uma vez livres do pecado, temos o dever de praticar o amor ao próximo. Não porque precisamos, mas por que quem precisa do meu amor é o próximo. Esta é a maior maneira de demonstrar o amor a Deus, ou seja, amando o próximo.

Considerações Finais

É fato que há muitas denominações ao nosso redor, e o problema ainda é o mesmo que estava presente na Galácia. No mundo existem apenas duas categorias de religiões, a religião cristã e a não cristã. Entretanto, há muitas vertentes dentro do cristianismo e alguns acabaram se afastando do verdadeiro evangelho indo para outro evangelho que por sinal não tem nada de evangelho. Paulo não está falando apenas aos gálatas, mas também se refere a nós. Nós é que muitas vezes partimos para um lado totalmente legalista dizendo que é necessário fazer isso ou aquilo, e quando isso acontece, o texto bíblico nos mostra que nós estamos livres, da mesma forma que os gálatas também estavam. Por outro lado, muitas vezes fazemos de tudo, o que podemos e o que não podemos, fazendo mau uso de nossa liberdade. E para isso Paulo nos alerta que não pratiquemos o pecado, mas sim o amor. Da mesma forma, no “Tratado sobre A Liberdade Cristã”, Lutero conclui que a pessoa cristã não vive em si mesma, mas em Cristo e em seu próximo, ou então não é cristã. Pela fé em Cristo não somos livres das obras, mas do falso conceito das obras, isso é, da presunção de uma justificação conseguida pelas obras. Por isso podemos e devemos praticar o amor. E só dentro da liberdade cristã, podemos então afirmar “nós amamos, por que Ele nos amou primeiro”!

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

FLOR, Paulo F. Epístola aos Gálatas um Comentário. Ed. Concórdia: Porto Alegre. Rio Grande do Sul. 2009.

TAYLOR, William Carey. A Epístola aos Gálatas. 2ª Edição. Ed. Casa Publicadora Batista: Tomaz Coelho. Rio de Janeiro. 1938.

LUTERO, Martinho. Interpretação do Novo Testamento Gálatas – Tito. Volume Nove. 1ª Edição. Ed. Comissão Interluterana de Literatura: São Leopoldo. 2008.

LUTERO, Martinho. O Programa da Reforma Escritos de 1520. Ed. Comissão Interluterana de Literatura: São Leopoldo. 1988.

SCHOLZ, Vilson. Novo Testamento Interlinear Grego-Português. 1ª Edição. Ed. Sociedade Bíblica do Brasil: Barueri. São Paulo. 2004.

THIESELTON, A. C. Dicionário Internacional de Teologia do Novo Testamento. Volume Um. 1ª Edição. Ed. Vida Nova: São Paulo. São Paulo. 1981.

RIENECKER, Fritz. CLEON, Rogers. Chave Linguística do Novo Testamento Grego. 1ª Edição. Ed. Vida Nova: São Paulo. 1985.

GINGRICH, Wilbur F. Léxico do Novo Testamento Grego/Português. 1ª Edição. Ed. Vida Nova. São Paulo. 1984.

PETTER, Hugo M. Concordância Greco-Española del Nuevo Testamento. Ed. CLIE. Spain. 1976.

domingo, 14 de junho de 2009

Parte de uma conversa no MSN

Quando você passa e vê um mendigo na rua, você sabe que não precisa ajudar ele para a sua salvação, mas você sente compaixão por aquele mendigo que está passando frio neste inverno e dorme na calçada. Mas se você sente compaixão, por que não ajuda ele?

Por que não ajudar?

Por que nós ficamos sentados apenas esperando a volta do messias?

Não precisamos fazer nada para a salvação, mas esse mendigo precisa de minha ajuda e no fundo do meu coração eu quero ajudá-lo, mas por que eu não faço?

O que você pensa sobre isso? O que você diria? Comente e vamos refletir sobre isso!

segunda-feira, 1 de junho de 2009

A Liberdade Cristã Segundo Lutero

An


- Principais textos de Lutero sobre o tema da Liberdade Cristã.

  • Manifesto à nobreza cristã da nação alemã (1520), que escreveu contra a hierarquia romana;
  • Prelúdio acerca do cativeiro babilônico da Igreja (1520), contra o sistema sacramental de Roma (Batismo, Penitência, Confirmação, Matrimônio, A Ordem e a Extrema-Unção);
  • Tratado acerca da liberdade cristã (1520), em que Lutero pretendeu afirmar tudo quanto ao assunto da fé, do amor e da liberdade cristã.

- Qual era a sua proposta?

A proposta de Lutero não é tão simples quanto parece.

Como alguém pode ser livre de tudo e não estar sujeito a ninguém, mas ao mesmo tempo servo de todos?

Outros temas podem ser abordados aqui que resumem essa dialética que parece ser uma controvérsia.

Dentro do tema “Justificação pela Fé”, podemos encontrar a resposta em relação à liberdade cristã. Uma vez que somos justificados perante Deus mediante Cristo Jesus, não precisamos das obras para nossa Salvação.

Lutero expõe isso claramente no tratado da liberdade cristã. Ele escreve:

Pois a palavra de Deus não pode ser recebida e cultivada por nenhuma obra humana, senão somente pela fé. Por isso claro está que assim como a alma necessita tão somente da Palavra para a vida e a justiça, do mesmo modo ela é justificada somente pela fé, e por nenhuma obra. Pois se pudesse ser justificada por qualquer outra coisa, ela não necessitaria da Palavra e, conseqüentemente, também não da fé. (OS 2, 435-460)

A palavra oferece ao ser humano Cristo, o Salvador, que nos justifica independente de nossas obras. Fazendo citações de Rm 3.23 e Rm 3.10 ss, ainda comenta:

Uma vez reconhecido isso, saberás que tens necessidade de Cristo, que por ti sofreu e ressuscitou, para que, crendo nele, te tornes outra pessoa por meio desta fé, recendo perdão de todos os teus pecados e sendo justificado por méritos alheios, a saber, somente pelos méritos de Cristo. (OS 2, 435-460)

Em relação à justificação ainda comenta:

Por isso, claro está que assim como a alma necessita tão-somente da Palavra para a vida e a justiça, do mesmo modo ela é justificada somente pela fé, e por nenhuma obra. (OS 2, 435-460)

A primeira pergunta já está respondida por Lutero, entretanto isso não quer dizer que não precisamos fazer nada. Inclusive era o pensamento de algumas pessoas da época de Lutero e também de alguns amigos. Vejamos então a resposta para a segunda pergunta.

- Como alguém pode ser livre e servo?

Nesse ponto, pode ser abordado o tema das “Boas Obras”. Contudo, essa também não é uma questão fácil de responder. Melanchton, amigo de Lutero, expõe isso de maneira clara na obra “Justificação pela Fé”. Ele escreve:

“Essa fé é atribuída como justiça diante de Deus, Rm 4.3-5.” E quando o coração é erigido e vivificado dessa maneira pela fé, recebe o Espírito Santo, que nos renova de modo que possamos cumprir a lei, amar a Deus e sua palavra, obedecer a Deus em aflições, ser castos, amar o próximo, etc. Ainda que estas obras por ora distem muito da perfeição da lei, agradam, contudo, em razão da fé, pela qual somos reputados justos, em virtude de crermos que temos um Deus reconciliado por causa de Cristo. (Justificação pela Fé, 35)

Lutero entra no assunto da lei dizendo que lhe é impossível ao ser humano cumpri-la e seu fundamento está em Oséias 13.9: “És tua própria perdição, Israel, e teu auxílio está só em mim.” A pessoa que do contrário busca salvação por meio da lei, não encontra em sim mesma aquilo pelo qual possa ser justificada e salva. Porque Deus Pai depositou tudo na fé, para que quem tem a esta, tenha tudo; quem não a tem; não tenha nada. Assim, as promessas de Deus dão de presente o que os preceitos exigem, e cumprem o que a lei ordena, para que tudo seja exclusivamente de Deus, tanto os preceitos quanto o seu cumprimento. E Melanchton ainda escreve:

Não cumprimos nem podemos cumprir a lei antes de reconciliados com Deus, justificados e renascidos. Nem agradaria a Deus esse cumprimento da lei a menos que fôssemos aceitáveis em virtude da fé. E visto serem os homens aceitáveis em razão da fé, por isso mesmo agrada o cumprimento da lei, e tem galardão nesta vida e depois dela. (Justificação pela Fé, 42)

Escreve também:

Depois de justificados e renascidos pela fé, principiamos a temer e amar a Deus, a rogar e dele esperar auxílio, a reder-lhe graças e louvor, e a obedecer-lhe nas aflições. Começamos também a amar o próximo, por ter no coração movimentos espirituais e santos. (Justificação pela Fé, 44)

Esta é a liberdade cristã, nossa fé, que não faz que sejamos ociosos ou vivamos mal, mas que ninguém necessite da lei ou de obras para a justiça e salvação.

As obras devem brotar da cruz, de um coração que está em Cristo. Fora de Cristo não há boa obra. C. F. W. Walter faz uma boa ilustração do que é uma boa obra utilizando do texto de Zaqueu.

Zaqueu diz: “Senhor, resolvo dar aos pobres a metade de meus bens; e, se nalguma cousa tenho defraudado alguém, restituo quatro vezes mais”. O Senhor não exigiu que ele fizesse isso. Sua própria consciência, primeiramente despertada, mas agora já tranqüilizada, exigia que ele praticasse esse grande ato de generosidade para com os pobres. (Lei e Evangelho, 43)

Ou seja, é a ação de Deus em nossa vida. Por isso o cristão deve ser servo de todos. Em gratidão ao amor de Deus. É sempre Deus que vem primeiro. Também podemos ver isso com o salmista quando diz : “unges-me a minha cabeça com óleo, o meu cálice transborda”. É como se ele dissesse: Senhor molda-me primeiro, para que eu possa te servir.

- O que afirmar?

A Fórmula de Concórdia é um conjunto de artigos que afirmam a verdadeira doutrina bíblica. Foram escritos entre 1530 a 1575 na tentativa de acabar com as controvérsias doutrinárias. Infelizmente algumas controvérsias perduram até hoje.

Uma dessas controvérsias, diz respeito às Boas Obras que encontramos no capítulo IV da Fórmula de Concórdia.

Gostaria de ressaltar aqui uma das afirmações que encontramos na Apologia da Fórmula de Concórdia:

Também cremos, ensinamos e confessamos que não as obras, mas apenas o Espírito de Deus, por intermédio da fé, preserva a fé e a salvação em nós. As boas obras são testemunho da presença e habitação do Espírito Santo. (Cremos por isso também falamos, 64)

- Conclusão

Diante da pesquisa realizada, percebi a ligação do tema liberdade cristã com vários outros, como por exemplo: fé, obras, justificação e santificação.

Todos os temas estão interligados. Talvez possa até afirmar que o tema liberdade cristã pode ser encontrado “camuflado” na maioria dos escritos de Lutero.

Em seu “Tratado sobre A Liberdade Cristã”, Lutero conclui que a pessoa cristã não vive em si mesma, mas em Cristo e em seu próximo, ou então não é cristã. Pela fé em Cristo não somos livres das obras, mas do falso conceito das obras, isso é, da presunção de uma justificação conseguida pelas obras.

Por isso, faz-se necessário diferenciar justificação por obras e justificação pela fé para poder entender qual é a liberdade do cristão, sendo que justificado pela fé em Cristo é capacitado diariamente a fazer boas obras.

Devido às afirmações, a Igreja pode se posicionar e confessar como consta no 4º artigo da Fórmula de Concórdia:

Também cremos, ensinamos e confessamos que não as obras, mas apenas o Espírito de Deus, por intermédio da fé, preserva a fé e a salvação em nós. As boas obras são testemunho da presença e habitação do Espírito Santo. (Cremos por isso também falamos, 64)


REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Bíblia Traduzida, ARA.

A Nobreza Cristã da Nação Alemã, acerca da Melhoria do Estamento Cristão. OS 2, 277-340.

Prelúdio Acerca do Cativeiro Babilônico da Igreja. OS 2, 341-424.

Tratado de Martinho Lutero sobre a liberdade cristã. OS 2, 435-460.

WARTH, Martin C. A Justificação pela Fé. Porto Alegre, Concórdia,1983.

LIENHARD, Marc. Martim Lutero - Tempo, Vida e Mensagem. São Leopoldo, Sinodal, 1998.

GOERL, Otto A. Cremos, por isso também falamos – Fórmula de Concórdia. Porto Alegre, Concórdia, 1977.

Seibert, Erní W. Introdução às Confissões Luteranas – Sua atualidade e relevância. Porto Alegre, Concórdia, 2000.

Walter, C. F. W. Lei e Evangelho. Porto Alegre, Concórdia, 2ª edição 1998.

Livro de Concórdia – As Confissões da Igreja Evangélica Luterana do Brasil.