sexta-feira, 18 de junho de 2010

BATISMO - Do Cativeiro Babilônico




Continuação do artigo anterior...

BATISMO

Na visão de Lutero, a primeira coisa a se observar é a promessa divina: “Quem crer e for batizado será salvo”(Mc 16.16). Dessa promessa depende toda a nossa salvação. Contudo, deve ser observado que nela se exerce a fé. Pois onde não existe ou não se consegue essa fé, de nada nos serve o Batismo.

Quando ressurgimos dos pecados ou nos arrependemos, não fazemos outra coisa que voltar ao poder do Batismo e a fé nele, da qual nos havíamos afastado; e voltamos à promessa feita então, a qual havíamos abandonado por causa do pecado. O Batizado possui então, algo com que objetar aos pecados que lhe perturbam a consciência. Tem com que responder ao horror da morte e do juízo. Possui a única verdade que diz: Deus é veraz em suas promessas, cujo sinal recebi no Batismo. Se Deus é por mim, quem será contra mim?

Contudo, há um único pecado que pode condenar o Batizado, a saber, a incredulidade. Todavia é importante também lembrar que ao incrédulo é sempre possível voltar a fé, pela própria fé. Lutero lembra que muitos abandonam a fé na promessa e se precipitam no pecado. Porém Cristo permanece sempre disposto a perdoar pecados.

Por isso, se queres ser salvo, deves começar com a fé nos sacramentos, sem obra alguma. As próprias obras seguirão a fé. Somente pela fé te salvarás. Ela é obra de Deus e não do ser humano, como ensina Paulo (Ef 2.8). As demais ele realiza conosco e por nós, mas esta única é efetuada em nós e sem nós.

Disso pode-se discernir que o ministro efetua a obra do batizado ao submergir o batizando. E não batiza, já que nesta obra não se age por sua própria autoridade, mas representa a Deus. Por isso podemos receber o Batismo das mãos de um ser humano como se Cristo, ou melhor, como se Deus nos batizasse com suas próprias mãos. E isso está expresso nas palavras: “Eu te batizo em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo. Amém”.

E mesmo que um ministro ímpio não administre o Batismo em nome do Senhor, a pessoa está verdadeiramente batizada em nome do Senhor se o recebe em nome do Senhor.

Contudo, Lutero diz que é um erro opinar que os sacramentos da nova lei diferem dos sacramentos da antiga lei segundo a eficácia significativa. Ambos significavam de igual forma. Porque o Deus que nos salva agora pelo Batismo e pelo Pão é o mesmo que salvou a Abel pelo sacrifício, a Noé pela arca, a Abraão pela circuncisão e todos os demais pelos seus sinais.

Então se pode notar que não há diferença entre o sacramento da antiga lei e da nova lei, entretanto há uma nova lei e por isso o sacramento é diferente. Lá os sacramentos não justificam, mas são exclusivamente sacramentos de obra. Todo o seu poder e natureza era obra e não fé.

O Batismo não justifica a ninguém, nem é útil a pessoa alguma, mas a fé na palavra da promessa, à qual se agrega o Batismo, essa, sim, justifica e cumpre o que o Batismo significa, pois a fé é a submersão do velho ser humano e a emersão do novo ser humano. O Batismo significa duas coisas: morte e ressurreição, isto é, a justificação plena e consumada.

Lutero diz que tudo o que vivemos deve ser Batismo e completar o sinal ou o Sacramento do Batismo. “Libertos de todas as demais coisas, entreguemo-nos tão somente ao único Batismo, a saber, à morte e à ressurreição”. Por isso ninguém tem o direito de impor uma sílaba ao cristão, a não ser que isso aconteça com o seu consentimento.

E com respeito ao batismo de crianças diz Lutero: os pequenos são socorridos através da fé alheia, dos que os trazem para o Batismo. A palavra de Deus, enquanto ressoa, é tão poderosa que pode mudar também o coração do ímpio, que não é menos surdo e incapaz que qualquer pequeno.

Ele também diz que é um problema para a Igreja e para as almas simples recomendar um modo público de viver em votos que deverão ser professados. E aconselha que, em primeiro lugar, as autoridades das igrejas suprimam todos esses votos ou o modo de vida dos professos, ou que não os aprovem nem os louvem. Ele diz que esse modo de vida tende a hipocrisia.

E para terminar, escreve:

“Seria um conselho salutar deixar somente ao Espírito esses sublimes modos de viver, livres de votos, tal como anteriormente estavam, e jamais transformá-los nesse modo de vida perpétua”.

Qual o proveito disso tudo?

O proveito é que aquilo que acontece conosco no Batismo é algo real. O perdão de pecados e fé estão presentes. E assim como Lutero usa o Batismo para objetar contra os pecados, nós também podemos fazer. A vida da Igreja Cristã continua e essas verdades podem e devem ser afirmadas.

quarta-feira, 2 de junho de 2010

SANTA CEIA - Do Cativeiro Babilônico


Olá amigos!
Há tempo não escrevo...
Resolvi postar um breve resumo com alguns apontamentos sobre a Santa Ceia que constam no texto "Do Cativeiro Babilônico" que foi escrito por Lutero.
Espero que apreciem!

SANTA CEIA

Lutero começa o assunto do Sacramento do Pão dizendo que João 6 deve ser colocado de lado, pois neste texto João fala do comer espiritual. Pois o comer sacramental não vivifica, porque muitos comem indignamente.

Ele comenta que para este sacramento é preferível usar o texto de 1 Co 11 e principalmente para a defesa da administração do sacramento com as duas espécies. Com isso, argumenta contra a teologia católico-romana, pois só era dada uma espécie de elementos aos leigos. Alegam sem abonação da Escritura, que fica ao critério da Igreja distribuir a espécie que quiser.

Em confronto contra a igreja católico-romana, Lutero argumenta usando Mt 26.27 e diz: “Confesso que esse argumento, para mim irrefutável, me convenceu, e não li, nem ouvi, nem encontrei nada que o contradiga, pois aqui a palavra e o exemplo de Cristo são firmíssimos, quando diz não permitindo, mas ordenando: “Bebei dele todos”. Além disso, a Ceia, na igreja catolica-romana, só é administrada aos sacerdotes e monges e não é dada a “promessa” aos leigos.

No entanto, Lutero escreve: “O que mais me urge e me convence por completo é que Cristo diz: “Este é meu sangue, derramado por vós e por muitos para a remissão dos pecados(MT 26.28; Lc 22.20). Aqui vês com toda a clareza que o sangue é dado a todos, por cujos pecados foram vertidos. Quem ousará dizer que não foi derramado pelos leigos? Acaso não vês a quem fala quando dá o cálice? Não o dá a todos? Não diz que foi derramado por todos?”

Também diz que o apóstolo Paulo cala a boca de todos quando diz: “Recebi do Senhor o que também vos transmiti(1 Co 11.23)”.

E o primeiro cativeiro desse sacramento, conforme Lutero, se refere a sua substância ou integridade que a tirania romana tirou. Não é que preguem contra Cristo os que usam uma espécie, já que Cristo não preceituou usar alguma, mas o deixou ao arbítrio de cada qual dizendo: “Todas as vezes que o fizerdes, fazei-o em minha memória (! Co 11.23-25)”. Pecam, porém, os que proíbem dar ambas as espécies aos que querem fazer uso desse arbítrio. A culpa não está nos leigos, mas nos sacerdotes. O sacramento não é propriedade dos sacerdotes, mas de todos.

O segundo cativeiro desse sacramento se refere à consciência.

De um lado os católicos usam opiniões da doutrina da transubstanciação que é desenvolvida a partir da filosofia aristotélica de Tomás de Aquino e não segundo as palavras de Cristo. Do outro lado, Lutero diz que a frase de Cristo “Isto é o meu corpo” é uma obra divina do poder do Onipotente, a qual pode agir da mesma maneira na substância como no acidente.

Ele defende: “Se a filosofia não o compreende, a fé em verdade o compreende”.

O terceiro cativeiro é o abuso extremamente ímpio, por causa do qual sucede que atualmente na Igreja quase nada é mais aceito nem convence mais do que a crença de que a missa é boa obra e sacrifício.

Do contrário, a missa é a promessa do perdão dos pecados que Deus nos fez, e é promessa tal que foi confirmada pela morte do Filho de Deus. Esse benefício é oferecido na Ceia.

Entretanto, duas coisas são simultaneamente necessárias: a promessa e a fé. Pois sem promessa nada se pode crer. Sem a fé, porém, é inútil a promessa, a qual é fortalecida e cumprida pela fé.

De todo, deve precaver-se com maior cuidado para não se aproximar confiado na confissão, oração e preparação; desesperando de todas essas coisas, deve aproximar-se em soberba confiança no Cristo que promete.

Lutero ainda faz distinção de que a palavra sacrifício não deve ser relacionada com sacramento e testamento. Pois a missa, que envolve sacramento e testamento, nós recebemos, enquanto que o sacrifício nós oferecemos. E ainda para dizer que o que é de Deus é de Deus. Ele finaliza: “A missa de um mau sacerdote deve ser vista da mesma maneira que a de um bom sacerdote qualquer, e a de S. Pedro não teria sido melhor que de Judas, o traidor, caso tivessem sacrificado”.

Qual o proveito disso tudo?

O proveito é que a vida da Igreja em torno da Santa Ceia continua. Os benefícios da Ceia são oferecidos a cada vez em que ela é celebrada. Cristo está presente em nossas vidas através da Ceia e todos esses apontamentos trazidos a tona por Lutero continuam e podem ser afirmados através do cristianismo.