sexta-feira, 17 de julho de 2009

Nem legalismo, nem libertinagem, somente o amor...


EXEGESE GÁLATAS 5.13

Gl 5.13 – “Porque vós, irmãos, fostes chamados à liberdade; porém não useis da liberdade para dar ocasião à carne; sede, antes, servos uns dos outros, pelo amor”.

Na carta aos Gálatas, o apóstolo Paulo está lidando com o problema dos judaizantes. Esses ensinavam que era necessário cumprir as leis e as tradições judaicas para obter a salvação. Não negavam a fé, mas consideravam-na insuficiente. Possivelmente eram judeus super zelosos que vieram da Judéia, ou seja, cristãos vindos de fora que estavam levando os cristãos da Galácia para outro caminho, o qual não provinha de Cristo.

Por meio desta carta, Paulo quer defender a sua autoridade apostólica e reafirmar o evangelho em toda a sua verdade. O versículo escolhido para esta exegese consta de três palavras muito importantes que talvez seja necessário analisá-las para melhor compreendê-lo. As palavras são: liberdade, carne e amor.

Liberdade

A liberdade para Paulo é um tema muito importante. Por isso Paulo sempre ao tratar desse tema, trata-o com carinho e reverência. Entretanto, o texto parece ser um pouco confuso de se entender, pois Paulo escreve: “Porque vós, irmãos, fostes chamados à liberdade”. O que é ser chamado à liberdade?

O termo utilizado no grego para liberdade é “eleutería”.Desse mesmo modo, esse termo é encontrado nas seguintes passagens: 1 Co 10.29; 2 Co 3.17 e Gal 5.1. Analisando esses outros versículos, pode-se notar que Paulo, ao utilizar esse termo está ensinando sobre a liberdade que os cristãos adquiriram por causa de Cristo. Paulo está ensinando aos gálatas que por causa de Cristo, eles estão livres da lei, da carne e do pecado. Por isso, Cristo deve ser o objeto da fé do cristão e não as leis e as tradições judaicas como queriam os judaizantes. Só em Cristo nós temos liberdade, pois só Ele pode nos concedê-la. Ao ser humano, não há método pelo qual consiga obter a salvação por si próprio, mas por meio de Cristo isso é possível. Sendo assim, já convencidos pelo Espírito Santo que nos concedeu a fé em Cristo Jesus o nosso Salvador, não precisamos fazer nada para a nossa salvação. Aquele que se acha no direito de salvar-se por seus méritos, nega a Cristo e ao seu perdão. Por isso Paulo escreve: “Porque vós, irmãos, fostes chamados à liberdade”. Por que estando em Cristo somos chamados a liberdade e fora dele não há liberdade. Fora de Cristo não há perdão!

Entretanto, essa liberdade que Cristo nos dá está direcionada. Paulo escreve: “porém não useis da liberdade para dar ocasião à carne; sede, antes, servos uns dos outros, pelo amor”.

Carne

Para a palavra carne Paulo utiliza o termo “sarx”, do grego e este aparece em vários outros textos. Paulo utiliza o termo carne às vezes para descrever o ser humano ou uma pessoa (Gl 1.16), também pode ser identificado como natureza humana, descendência mortal (1Co 10.18), talvez limitação física (Gl 2.20), entretanto freqüentemente Paulo utiliza o termo carne como o instrumento voluntário do pecado (Gl 5.16s;Gl 5.19; Gl 5.24) e é exatamente a isso que se refere Paulo no versículo 13 do capítulo 5 da carta aos gálatas. Para Paulo o pecado é a pior coisa que existe, pois é por causa do pecado que Deus se tornou nosso maior inimigo. Por causa do pecado que herdamos de Adão e Eva Deus nos acusa constantemente porque não conseguimos cumprir a sua lei. Contudo, Cristo veio ao mundo para dar perdão dos pecados e Paulo exorta aos Gálatas para que não voltem para a vida em pecado, pois estão dentro da liberdade cristã. Os gálatas estavam indo para um lado extremo que é o da libertinagem. Parece que o pensamento dos gálatas era de que salvos por Cristo podiam pecar à vontade, pois Cristo os perdoaria e Paulo nesse momento escreve para que eles não façam isso, mas ajam com amor. Paulo os exorta a não fazerem mau uso da liberdade dando lugar para a carne, ou seja para o pecado. É interessante que Paulo coloca um limite para que os gálatas não caiam no erro novamente e esse limite é o amor.

Amor

Para Paulo, o amor (ágape) deve ser o meio pelo qual os gálatas devem agir uns com os outros e por isso ele usa a preposição "dia", que com o genitivo mostra que é o meio pelo qual devem agir. Paulo não está se referindo ao amor apenas como sentimento, mas como maneira de agir. É interessante que esse é o direcionamento que Paulo coloca para os gálatas, é como se dissesse para praticarem o amor, pois assim não estariam praticando o pecado. Os gálatas já eram cristãos, mas estavam sendo desviados por outros, ou seja, pelos judaizantes. Os judaizantes estavam induzindo os gálatas a praticarem as leis e tradições judaicas alegando que era isso que agradava a Deus. Paulo diz que não! O que agrada a Deus é agir com amor ao próximo e que este amor está dentro da liberdade cristã, a liberdade que Cristo nós dá. Uma vez livres do pecado, temos o dever de praticar o amor ao próximo. Não porque precisamos, mas por que quem precisa do meu amor é o próximo. Esta é a maior maneira de demonstrar o amor a Deus, ou seja, amando o próximo.

Considerações Finais

É fato que há muitas denominações ao nosso redor, e o problema ainda é o mesmo que estava presente na Galácia. No mundo existem apenas duas categorias de religiões, a religião cristã e a não cristã. Entretanto, há muitas vertentes dentro do cristianismo e alguns acabaram se afastando do verdadeiro evangelho indo para outro evangelho que por sinal não tem nada de evangelho. Paulo não está falando apenas aos gálatas, mas também se refere a nós. Nós é que muitas vezes partimos para um lado totalmente legalista dizendo que é necessário fazer isso ou aquilo, e quando isso acontece, o texto bíblico nos mostra que nós estamos livres, da mesma forma que os gálatas também estavam. Por outro lado, muitas vezes fazemos de tudo, o que podemos e o que não podemos, fazendo mau uso de nossa liberdade. E para isso Paulo nos alerta que não pratiquemos o pecado, mas sim o amor. Da mesma forma, no “Tratado sobre A Liberdade Cristã”, Lutero conclui que a pessoa cristã não vive em si mesma, mas em Cristo e em seu próximo, ou então não é cristã. Pela fé em Cristo não somos livres das obras, mas do falso conceito das obras, isso é, da presunção de uma justificação conseguida pelas obras. Por isso podemos e devemos praticar o amor. E só dentro da liberdade cristã, podemos então afirmar “nós amamos, por que Ele nos amou primeiro”!

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

FLOR, Paulo F. Epístola aos Gálatas um Comentário. Ed. Concórdia: Porto Alegre. Rio Grande do Sul. 2009.

TAYLOR, William Carey. A Epístola aos Gálatas. 2ª Edição. Ed. Casa Publicadora Batista: Tomaz Coelho. Rio de Janeiro. 1938.

LUTERO, Martinho. Interpretação do Novo Testamento Gálatas – Tito. Volume Nove. 1ª Edição. Ed. Comissão Interluterana de Literatura: São Leopoldo. 2008.

LUTERO, Martinho. O Programa da Reforma Escritos de 1520. Ed. Comissão Interluterana de Literatura: São Leopoldo. 1988.

SCHOLZ, Vilson. Novo Testamento Interlinear Grego-Português. 1ª Edição. Ed. Sociedade Bíblica do Brasil: Barueri. São Paulo. 2004.

THIESELTON, A. C. Dicionário Internacional de Teologia do Novo Testamento. Volume Um. 1ª Edição. Ed. Vida Nova: São Paulo. São Paulo. 1981.

RIENECKER, Fritz. CLEON, Rogers. Chave Linguística do Novo Testamento Grego. 1ª Edição. Ed. Vida Nova: São Paulo. 1985.

GINGRICH, Wilbur F. Léxico do Novo Testamento Grego/Português. 1ª Edição. Ed. Vida Nova. São Paulo. 1984.

PETTER, Hugo M. Concordância Greco-Española del Nuevo Testamento. Ed. CLIE. Spain. 1976.

Um comentário:

Anônimo disse...

Excelente artigo, esclareceu muito bem o conceito de liberdade cristã tanto em Paulo quanto em Lutero.
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Fique com Deus e que Ele te abençoe no seu ministério pastoral.