domingo, 22 de setembro de 2013

A relação entre o "sacerdócio de todos os crentes" e o "ministério pastoral" na igreja.



Em seu escrito “À Nobreza Cristã da Nação Alemã” (1520), Lutero tenta explicar a relação destes por meio de analogias. A primeira analogia que ele usou foi a de 10 irmãos que são filhos de um rei e herdeiros iguais. É óbvio que todos os 10 irmãos não podem agir como o rei, pois, consequentemente, um deles deve ser escolhido para governar a herança da melhor maneira visando também o que é do interesse dos outros irmãos. Pois embora todos eles são reis e possuem igual poder, apenas um deles pode exercer a responsabilidade de governar.
A segunda analogia que Lutero usa é a de um grupo de cristãos que estão perdidos no deserto. Eles não tem devidamente ordenado um pastor ou sacerdote entre eles. Este grupo de cristãos, disse Lutero, pode decidir escolher um de seu meio para batizar, celebrar a missa, pronunciar a absolvição, e pregar o Evangelho. E ao selecionar um dentre eles, os outros não estão perdendo os seus direitos no sacerdócio universal mesmo que estes vêem que todos podem exercer o ministério público. Nenhum cristão pode tomar frente e tomar o que é posse comum de todos os sacerdotes. Deve haver um chamado e uma ordenação por parte da Igreja para que alguém possa exercer o ministério pastoral.
Lutero rejeita a noção da igreja romana de que uma vez ordenado ao ministério, ministro para sempre (caráter indelével do ministério). Lutero afirma que ao pastor se tornar leigo ele não se torna nem mais nem menos do que qualquer outro cristão que está sentado nos bancos da igreja. No entanto, enquanto é pastor, exerce excelente obra.
"Fiel é a palavra: se alguém aspira ao episcopado, excelente obra almeja" (1 Tm 3.1).
Mas ainda quanto ao ministro Lutero relembra do caminho que leva o sacerdote cristão a se tornar um ministro da Palavra, que é pela (Ordenação), e é somente por esse meio que um sacerdote pode tornar-se um ministro da Palavra através de um chamado e da ordenação na comunidade a qual lhe quer como ministro. E dentro disso cada ministro tem qualidade e dons diferentes.
Ao tratar da “Liberdade Cristã” (1520), Lutero relembra que apesar de todos os cristãos serem sacerdotes eles não podem exercer publicamente o ministério do ensino, pois, para isso um deve ser escolhido e chamado pela comunidade.
Resumindo, talvez a relação entre o sacerdócio universal e do ministério publico da igreja seja a seguinte: na igreja todos são sacerdotes mas há um ministério ordenado que administra os sacramentos, proclama o Evangelho e que aceita o trabalho de servir aos irmãos na fé com o sustento que provem de Deus, inaugurando assim o Ministério Público do Luteranismo.
No entanto, podemos arriscar dizer que o sacerdócio universal de todos os crentes e o ministério pastoral andam juntos, pois além de fazerem parte do mesmo corpo de Cristo, a igreja, um não subsiste sem o outro, e a distinção se faz necessária para se manter a ordem dentre os crentes e perante o mundo.
Convém firmar que ministério pastoral e sacerdócio universal são serviços diferentes, que um não é mais do que o outro, e que todos trabalham juntos para honra e glória do Senhor que resgatou para a nova vida em amor ao próximo.
Nem todos eram "pastores", mas todos eram "cooperadores" do evangelho, envolvidos na obra do Senhor (1 Co 15.58), porque não faziam diferença, como nós costumamos fazer, entre coisas espirituais e administrativas na igreja, para eles tudo o que era feito para o Senhor Jesus era espiritual, porque todos os dons eram recebidos como dons do Espírito para servir a Cristo e, dessa forma, dar glórias a Deus o Pai (1 Co 12.1ss). 
Paulo não traça uma linha divisória (toda divisão da igreja, para o Apóstolo, é negação da reconciliação em Cristo) entre dons do clero e dons dos leigos, mas afirma claramente a prioridade da palavra (pregação do evangelho) em relação aos demais serviços, porém todos os serviços são para o Senhor, no Espírito, para a glória de Deus.
Ao separarmos alguns serviços como espirituais (os serviços de que se ocupam os pastores) e outros como não-espirituais ou administrativos (os de que se ocupam os leigos), chegamos a esse impasse, como se os "leigos" estivessem privados de oferecer sacrifícios espirituais,  tendo o seu sacerdócio em Cristo impedido de realizar-se no serviço da igreja.
Em reação a isso, ou  contra esse erro, outros propõe a anulação completa da distinção entre os ofícios na igreja. Afirmando que todos são igualmente ministros e ninguém precisa pedir autorização da igreja.  Em alguns casos, é o pastor que não pode fazer nada se primeiro não lhe for delegado pela sua diretoria. Esses  exaltam o sacerdócio acima do ministério a ponto de anular o ministério e o chamado.
A unidade entre "sacerdócio" e "chamado" está acima da igreja, está em Cristo, o cabeça da igreja, dele recebemos vida como filhos de Deus, dele recebemos o dom do Espírito, somos todos servos de Cristo, em distintos ofícios, serviços e obras, com diferentes graças, dons ou carismas,  mas a alguns o mesmo Cristo chamou e deu à igreja como ministros ou servos da palavra (e dos sacramentos), para guiar o rebanho, para serem os mordomos espirituais da igreja, mas estes não estão "acima" dos demais em relação ao sacerdócio (também são irmãos amados), sua "autoridade" na igreja é a do chamado (para serem fiéis ministros).
Em vista disso, somente no "Cristocentrismo" a igreja encontra a sua unidade (1 Co 1.13), quando todos servem a Cristo como Senhor, como irmãos amados, todos, e os pastores, também como ministros fiéis na casa de Deus, em que, como Moisés, servem como servos, mas Cristo é o Filho e Herdeiro (Hebreus 3.5-6), que se fez nosso irmão, para nós também sermos, com Cristo, filhos, herdeiros e irmãos.