quinta-feira, 11 de março de 2010

A RECEPÇÃO PARA A IGREJA



A Recepção para a Igreja.

No terceiro capítulo de seu livro, Schlink comenta com relação ao Batismo e a recepção para a Igreja. Dentro desta perspectiva, tenta abordar três subtemas que dizem respeito à: incorporação ao povo de Deus, o corpo de Cristo, e o templo espiritual; Incorporação à Igreja e o comissionamento para o serviço no mundo; O perigo de reduzir o entendimento do Batismo ao aspecto externo de ser membro da Igreja. Seguindo a linha de pensamento de Schlink expressa neste capítulo, pode-se notar a importância do Batismo para o indivíduo, a Igreja e para o mundo.

Incorporação ao povo de Deus, o corpo de Cristo, e o templo espiritual.

Através do Batismo no nome de Cristo, o crente torna-se um membro da igreja. Não está dentro do poder humano tornar-se um membro da Igreja. A Igreja é chamada “Igreja de Deus” e cada pessoa que entra para a igreja é resultado de uma ação de Deus. Schlink não comenta sobre o oficiante que ministra o Batismo, mas fala da validade que tem o Batismo por ser ação de Deus e não de homens. Quando o crente é batizado na Igreja, é batizado em um corpo (1 Co 12.13) e acrescentado à Igreja através do Batismo (At 2.14).

Ser recebido na Igreja significa ser recebido na assembléia de culto, entretanto não é apenas poder cantar, orar e ouvir a proclamação do Evangelho, mas também é ser recebido na Santa Ceia. Na Igreja antiga, a Comunhão era associada com o Batismo. Esta assembléia é o centro de toda a vida da igreja. É este centro que define os conceitos da igreja, o corpo de Cristo, e o templo espiritual.

Na assembléia de culto, Deus serve a assembléia e faz dela Sua serva. Através da proclamação Deus atua como Aquele que está presente e garante participação na morte e ressurreição de Cristo. Através da proclamação “Aquele que virá” atua como “Aquele que já está presente” e garante participação na vida do crente. Na medida que os crentes reunidos proclamam a morte de Cristo e aguardam Seu retorno, Deus está trabalhando em Cristo e através do poder do Espírito Santo, Deus justifica, santifica e vivifica. Através do Batismo o pecador é levado constantemente, ou seja, a vida toda, à nova atividade salvífica com a qual Deus serve sua Assembléia.

Ao unir os crentes consigo mesmo, Deus também os une uns aos outros. “Comunhão dos Santos” significa, comunhão na recepção de dons santos, mas isso na medida que a comunhão é ao mesmo tempo a comunhão mútua daqueles que foram santificados por Deus por causa de Cristo. E através da variedade de dons espirituais, Cristo manifesta Sua presença na Igreja.

Mesmo que ser recebido na igreja é sempre ser acrescentado à uma denominação religiosa, há mais coisas envolvidas que ser recebido numa congregação local. Eklesia para o NT, significa tanto a congregação local como a igreja toda. O corpo que Cristo deu a morte de cruz e o corpo no qual Ele garante participação na Santa Ceia é o mesmo corpo onde quer que a Ceia seja celebrada. O Espírito Santo concede Seus dons onde quer que a mensagem sobre Cristo é ouvida e a Ceia recebida.

Em cada igreja local a igreja universal se manifesta através da presença do único Senhor. Assim, o relacionamento da igreja universal com as diversas igrejas locais não é relacionamento de adição, mas de inclusão. Inclusão entenda-se aqui, que significa estar dentro de um “todo” para “todos”. Por esta razão o Batismo significa ser recebido na “única, santa, católica e apostólica igreja”. (Credo Niceno)

A única igreja na qual um homem é batizado não é apenas a comunhão de todos os crentes que vivem na terra ao mesmo tempo, mas também com os pais que nos precederam na fé. A igreja que torna alguém seu membro pelo Batismo não é um fim em si mesma, mas ela é o instrumento da dominação de Cristo sobre o mundo. Ela não é apenas uma comunhão de contemporâneos, nem apenas uma comunhão com aqueles que nos precederam a fé, mas é levada à comunhão com aqueles que estão ainda fora dela e virão a ter fé. Isto está além da razão humana, mas é o que Deus promete por causa de Cristo através do Batismo e da Santa Ceia.

No Batismo o crente não é mais um indivíduo isolado, mas um membro do povo de Deus no qual Deus une todos através do Espírito Santo em todos os tempos. Em essência o Espírito cria comunhão com Cristo e com todos que estão em Cristo.

Incorporação à Igreja e o comissionamento para o serviço no mundo

O ato divino de ser recebido na igreja não é separado do mandamento divino sob o qual a igreja se coloca com todos os seus membros. A igreja tem um movimento duplo: Deus reúne aqueles que foram espalhados pelo mundo, une-os e fazem deles um só com Cristo e ao mesmo tempo, Deus envia a assembléia ao mundo e a autoriza para o serviço no mundo. Não apenas com relação ao testemunho, oração e confissão do culto, mas deve sair da assembléia e avançar na intercessão pelo mundo e no testemunho diante do mundo. Em outras palavras, é a vocação do cristão da qual Lutero menciona em seus escritos, em que o cristão é livre de tudo e a ninguém sujeito, mas ao mesmo tempo servo de tudo e a todos sujeito.

Toda pessoa batizada é enviada por Deus para ser uma testemunha em Seu lugar de acordo com a liderança e dom do Espírito Santo que ela recebeu. Este imperativo é também um mandamento da graça que não requer nada que Deus já não tenha dado. Mas, é vontade de Deus que todo aquele que recebeu esses dons afirme, agarre, manifeste e coloque-os a serviço do testemunho de Cristo. Na decisão de servir, o batizado deve dar lugar para o dom que tem. Se acaso isso não ocorrer e o batizado mesmo sabendo de sua salvação pelo Batismo se recusar obediência, acabará como o povo do Antigo Testamento que muitos foram jogados no deserto por se rebelarem contra a missão e orientação de Deus.

O perigo de reduzir o entendimento do Batismo ao aspecto externo de ser membro da Igreja.

A igreja consiste tanto de membros verdadeiros e vivos como de aparentes e mortos. A ela pertencem tanto os que foram eleitos pela graça como aqueles que serão rejeitados por causa de sua culpa. Esta separação será dada no julgamento final. Assim, os limites da igreja verdadeira estão escondidos até o Dia do Julgamento. Contudo, os reformadores ensinaram que esta igreja que está “invisível” para nós é uma realidade e deve ser reconhecida através da pregação do evangelho e da administração dos sacramentos. Por isso, a preocupação contida neste capítulo são os benefícios que o crente recebe através do Batismo. Através do Batismo, nós entramos para a igreja em seu sentido próprio.

Schlink termina o capítulo falando de dois problemas que reduzem o entendimento do Batismo: quando reduzimos o significado do Batismo a uma mera oferta da graça e fazemos com que o uso que o batizado faz dessa oferta restrinja o quadro de membros da igreja e também quando entendemos o Batismo desde o início apenas como uma entrada para a comunhão da igreja externa e evitamos asserções sobre o pertencer ao corpo de Cristo. Contrário à isso podemos nos lembrar da passagem em que Cristo diz: “Eu sou a videira, vós, os ramos. (Jo15.5). Cristo é a videira inteira e nós os ramos que estão dentro da videira verdadeira.

Contudo, o crente pode estar certo de que é incorporado à igreja através do Batismo e da mesma forma pode estar certo de sua justificação por fé enquanto ele está esperando ainda pelo julgamento vindouro. E apesar dos eleitos não serem separados do resto até o Julgamento final, os decretos de Deus de eleição não permanecerão ocultos até então. Pelo contrário, este decreto torna-se evidente hoje através do chamado à fé e é percebido no crente através da atividade graciosa de Deus.

“Bendito seja Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, que nos abençoou em Cristo com todo tipo de bênção espiritual nos lugares celestiais, assim como Ele nos escolheu antes da fundação do mundo, para que nós sejamos santos e sem mácula diante Dele”. (Ef 1.3-4).

BIBLIOGRAFIA

- TRATA-SE DA LEITURA DE UMA TRADUÇÃO EM ANDAMENTO DO LIVRO "A DOUTRINA DO BATISMO" DE EDMUND SCHLINK.

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